O segundo dia de programação do XIV Fórum Mundial das Cooperativas Vitivinícolas, em Garibaldi, aprofundou a discussão acerca do desenvolvimento das organizações e deu início à intercooperação, com um circuito de visitas técnicas por cooperativas da Serra Gaúcha. Uma das pautas que ganharam atenção ao longo da quinta-feira, indo ao encontro de temas discutidos pela manhã no evento, no Hotel Ski, foi o vinho como vetor de promoção de saúde.
O assunto é tido como estratégico na comunicação das cooperativas para diferenciar a bebida no mercado global e, assim, aumentar o consumo de vinho, promovendo também sua comercialização. O painel “Vinho é Saúde”, apresentado no início da noite na Cooperativa Vinícola Garibaldi, se baseou em pesquisas científicas para abordar os benefícios da bebida – tida em muitos países como complemento alimentar – diante de uma plateia também formada por jovens de diversas cooperativas. É o caso da dieta mediterrânea, que tem o vinho entre os itens. A região do Mediterrâneo, que compreende países ao sul da Europa, ao norte da África e em parte do Oriente Médio, tem dois dos cinco lugares onde as pessoas vivem mais, as chamadas “blue zones” – Icária, na Grécia, e Sardenha, na Itália. “Os vinhos têm inúmeros compostos fenólicos. A uva não tem apenas quantidade, mas diversidade de polifenóis. E esses polifenóis do vinho tinto oferecem cardioproteção e neuroproteção. Mas o vinho sozinho não adianta. É preciso ter hábitos saudáveis, como exercícios físicos, descanso, estar entre amigos, e consumo moderado. Quanto mais itens da dieta mediterrânea eu aderir, mais proteção eu vou ter, diminuindo os danos do álcool”, disse a pesquisadora e biomédica Caroline Dani.
De acordo com ela, autora de mais de 100 artigos científicos, as doses diárias não devem ultrapassar os 15 gramas de álcool para as mulheres e os 25 gramas de álcool para os homens. “Os benefícios estão atrelados ao consumo moderado. Daí, os polifenóis oferecem ação anti-inflamatória e antioxidante no nosso organismo, gerando vários benefícios”, pontuou Caroline, lembrando que o consumo moderado de vinho tinto faz parte dos nove segredos das “blue zones”.
Também convidado para o painel, o cardiologista Jairo Monson de Souza Filho falou de diferentes metodologias em pesquisas, das questões de raça e gênero e até das diferentes percepções dos países para classificar o que seria o consumo moderado como fatores que podem causar desentendimento nas questões que envolvem álcool e vinho. Também mencionou o padrão de ingesta como um fator a ser analisado. “As diferentes raças metabolizam o álcool de maneira diferente. A gente precisa entender e considerar isso. Consumir 30 gramas de álcool de uma vez ou em duas vezes de 15 gramas, uma de dia e outra de noite, não é a mesma coisa”, disse. Ele chamou a atenção para estudos que ganharam evidência nos últimos anos levando a entender que qualquer consumo de álcool pode ser danoso. “As bebidas alcoólicas não são iguais. O vinho se diferencia por causa de sua grande quantidade de polifenóis e sua capacidade antioxidante muito grande”, comentou. O médico questionou alguns dos levantamentos e disse que as pesquisas mais confiáveis são as advindas de revisões sistemáticas e de metanálise. Foi a partir de um estudo desses, com 4 milhões de pacientes, que o cardiologista destacou a importância de estar amparado em evidências científicas. “O estudo concluiu que não há evidência da associação entre o consumo moderado de vinho tinto e desfechos negativos para a saúde. Embora essa revisão não tenha como objetivo promover o consumo de vinho tinto em benefício da saúde, busca evitar que o consumo moderado de vinho tinto seja desencorajado com base em estudos inconsistentes e que consideram dados coletados de todas as formas de álcool e não do vinho em particular. Essa é a evidência mais robusta que a gente tem hoje para o consumo de vinho. Vocês têm uma arma muito grande para usar que é a evidência científica”, afirmou o cardiologista.
Intercooperação permite troca de conhecimento
Além de debater temas como esse, o encontro discutiu, pela manhã, alguns eixos temáticos para o desenvolvimento das cooperativas. Ações direcionadas a cinco pilares estratégicos – comercialização, comunicação, sustentabilidade, intercooperação técnica e observatório – foram discutidas e seguem na pauta para o último dia do evento, nesta sexta-feira (16).
A quinta-feira foi rica também em troca de experiências entre as delegações de seis países que estão no Fórum – Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Itália e Espanha – e as cooperativas da Serra. O dia foi destinado a conhecer mais sobre a Cooperativa Vinícola Aurora, maior cooperativa do setor do Brasil, com quase 1,1 mil famílias associadas. Os participantes conheceram o Vitis Aurora, no município de Pinto Bandeira, também na Serra, evento com 90 expositores, 10 startups e diversas palestras. O evento também sediou uma mesa-redonda com jovens que participam do Fórum, discutindo inovação, sustentabilidade e futuro da agricultura.
Na sequência, conheceram a unidade da Aurora no Vale dos Vinhedos, mais famosa região vitícola brasileira. A planta fabril, uma das três da cooperativa, é dedicada apenas à produção de suco de uva. Os visitantes conheceram as linhas de envase e a expedição.
Nesta sexta-feira, a intercooperação prossegue na região. Estão agendadas visitas técnicas na Cooperativa Nova Aliança, em Flores da Cunha, e na Central das Cooperativas da Serra Gaúcha (Cenecoop) e na Cooperativa São João, ambas em Farroupilha – essa última também sedia o jantar de encerramento da 14ª edição do Fórum Mundial das Cooperativas Vitivinícolas.